sábado, 19 de fevereiro de 2011

Egipto: Especialista do CICV avalia resposta médica

Hassan Nasreddine, médico especialista sénior do CICV (Comité Internacional da Cruz Vermelha), acaba de voltar à sede da organização em Genebra. Ele estava no Cairo, para onde foi com o objetivo de fazer uma avaliação em primeira mão da situação. Nesta entrevista, ele analisa a sua missão.



Qual foi o objectivo da sua missão no Cairo? Qual foi a sua primeira impressão quando chegou a essa cidade?

O que me chocou mais quando cheguei ao Cairo foram os civis que faziam barricadas, tentando proteger seus bairros contra os saques, porque a polícia havia abandonado as ruas. As cenas de violência, de áreas saqueadas e prédios queimados no meio da cidade... isso era chocante. Agora que tudo voltou ao normal na praça Tahrir, é difícil acreditar que a situação era essa há poucos dias.

Meu principal objetivo era avaliar a situação em termos de assistência médica para ter uma ideia do escopo das necessidades, no Cairo e em Alexandria. Desde o início dos acontecimentos, a prioridade do CICV era ajudar os socorristas a lidar com a situação. Trabalhamos de perto com o Crescente Vermelho Egípcio, nosso parceiro principal, que nos fornece uma lista de hospitais para onde as vítimas estão a ser levadas. Uma remessa de material médico chegou de avião com base nessa avaliação e será distribuída pelo Crescente Vermelho Egípcio e pelo Ministério da Saúde. O principal objectivo é aliviar a pressão sobre os stock's de contingência no Cairo e em outras cidades.



O CICV conseguiu distribuir material médico?

Junto com o Crescente Vermelho Egípcio, distribuímos material cirúrgico e outros tipos de suprimentos durante o fim de semana para 12 hospitais na área metropolitana do Cairo, onde a maioria das vítimas foi tratada: Hospital Geral de Mancheyet el Bakri, Hospital Geral de Mounira, Hospital Sahel, Hospital Om el Massriyin, Hospital Geral Boulak el Dakrour, Hospital Al Ahram, Hospital Geral de Embaba, Hospital Geral de Tahrir, Instituto Hospital Nasser, Hospital Helal, Hospital Kasr El Eini e Hospital Demerdash.

Os suprimentos eram suficientes para atender até mil pacientes gravemente feridos. Além disso, o Crescente Vermelho Egípcio recebeu material de curativo suficiente para tratar 5 mil vítimas. Também mantivemos em nossos próprios stock's kits de curativos suficientes para atender cerca de 5 mil pessoas com feridas leves.




Quais eram os principais desafios para as equipas médicas que tratavam os feridos durante os surtos de violência?
Durante os primeiros dias de fevereiro, a equipa médica nos postos de primeiros socorros e nos hospitais tiveram de lidar com centenas de vítimas. Mas devido a que ninguém se aventurava a entrar de carro na cidade, houve menos vítimas de acidentes de trânsito nos hospitais... E os socorristas na praça Tahrir estavam bem organizados.

Recebi actualizações regulares de vários socorristas no terreno na praça Tahrir e dos profissionais de saúde e equipas médicas em outros lugares. Havia um fluxo constante de alimentos, médicos e outros artigos para os médicos, enfermeiros e socorristas por parte dos cidadãos que recolhiam os itens em seus bairros.

O que me diziam era que a maior parte do seu trabalho consistia em atender ferimentos leves, enquanto as pessoas gravemente feridas eram transferidas para os hospitais em ambulâncias. Os serviços médicos de emergência estabilizavam pacientes e faziam triagens para assegurar que os pacientes com necessidades mais graves fossem atendidos primeiro. No Egipto, ao contrário de outros países, como na Europa, por exemplo, não é a Sociedade Nacional – o Crescente Vermelho Egípcio – que lidera a resposta no caso de uma emergência médica. No Egito, é o Ministério da Saúde que se encarrega dos primeiros socorros e dos cuidados hospitalares.


O que acontecerá agora? Como o CICV planeia trabalhar com o Crescente Vermelho Egípcio?

Até o momento, não identificamos outras necessidades, mas continuamos monitorizando a situação de perto e estamos preparados para assistir se necessário.

Um dos principais desafios consiste em adaptar-se a uma situação que progride rápido na qual se lide directamente com as pessoas ou com organizações mal-estruturadas, não com administração governamental. Deve-se encontrar uma forma criativa e nova para recolher informações e estar preparado para agir rápido.

Também estamos procurando desenvolver e fortalecer nossa parceria com o Crescente Vermelho Egípcio, por meio de sua ampla rede de funcionários e voluntários, a Sociedade Nacional é um parceiro fundamental.

Fonte:www.icrc.org

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